Apresentação do mangá:
Hoje, como um ia normal em que tenho mais tempo, pude, finalmente, me atualizar sobre os mangás e adquiri uma cópia de K-on. Mais por curiosidade que por interesse real. Em geral, adquiro os mangás em uma banca ao lado do local que almoço quando não trabalho.
Para quem não sabe K-on alcançou certa popularidade faz um tempo por aqui. Especialmente entre o fandom, mas especificamente entre garotas com idades entre 14 e 18 anos de idade. O enredo gira em torno de um clube escolar de música que está prestes a fechar as portas por falta de membros novos. O clube de música popular , ou “leve” como foi traduzido no mangá. Eu não me questionaria sobre a verossimilhança do pressuposto que impulsiona o capítulo inicial se ela não fosse extremamente paradoxal.
Claro, temos de levar em consideração que vários fatores podem ter influenciado para a atual situação do clube de música da escola em que se encontram as protagonistas, mas poderia ter havido uma maior preocupação em atar esses nós para dar uma história mais fluída e convincente. Razões não faltariam para o clube ter fechado e ninguém ter entrado nesses anos. Quem sabe as outras membros tivessem formado uma banda muito unida e o clube tivesse se tornado reduto delas ou mesmo ter apenas citado, trivialmente, que elas são as únicas a se interessar por música popular na escola desde a última turma que se formou.
Do jeito que está parece que o autor nem ao menos parou para pensar na possibilidade de que deixar isso à cargo do leitor evidencia um certo relaxo sobre os motivos do que ocorreu. Tudo bem é pasável, mas chega a incomodar um pouco sendo que isso poderia ter sido melhor explorado dentro do mangá ou ao menos todo o capítulo que revolve na seleção de membros do clube desnecessário. Isso porque a protagonista força as pessoas a entrarem no clube e seleciona a “vítima” mais fácil. Isso tornaria, também, a história mais rica e cheia de detalhes.
Shoujo típico:
A frase “Em time que está ganhando não se mexe” se aplica aqui perfeitamente aqui. Embora seja evidente que o pretexto do clube de música seja mais interessante que apenas relacionamentos em um ambiente escolar. Nos meandros é que encontramos a essência do gênero ao qual o mangá pertence.
O traço moderno e os enquadramentos quase sempre focados no rosto não deixam evidente a fisionomia das personagens. Porém, nos poucos momentos em que há uma figura ou ângulo que nos mostre os corpos das personagens: são magras e altas. Claro, nada comparado ao exagero esquelético representado em Sailor Moon ou às desproporções fenomenais da Clamp. Porém, a essência de representar alguém esbelta e bonita sem um corpo muito cheio de curvas está lá. A identificação do modelo feminino ideal aos olhos de outras mulheres pelo padrão de beleza que elas almejam.
Somado à isso há caracterização das personagens, suas personalidades. Todas elas tem traços simples e comuns ao mangá shoujo e há situações padrão para esse tipo de produção. Vamos começar pela quatro personagens principais:
Tsugumi Kotaluki – Meiga, rica, linda e disposta a ajudar os outros.
Mio Akyama – Séria, quieta e objetiva.
Ritsu Tainaka – Energética, entusiasta e impetuosa. Força alguns membros a se juntarem ao clube de música.
Yui Harisawa – Afetada, inocente e avoada. Junta-se ao clube por acaso. Em minha opinião chega a ser tapada.
São traços regulares em heroínas desses mangás apesar de serem gerais. São personagens com características que foram enraizadas em alguma personagem que tem praticamente aparição obrigatória em mangás shoujo. Quem já leu mais de 10 ou até mesmo mais de 20, como eu, sabe que esses traços de personalidade são muito recorrentes em protagonistas do sexo feminino. Aliás, todas as protagonistas nos shoujos mais típicos são mulheres por razões óbvias demais para eu me estender aqui.
Há algumas situações dentro das páginas inicias que acabam por cansar o leitor que não é maníaco pelo gênero e está tentando dar uma refrescada em sua leitura típica de outros gêneros de mangá e quer experimentar algo não tão recorrente. Vêem-me à mente algumas situações que ocorrem no capítulo inicial e me fizeram não gostar tanto do mangá o quanto eu estava esperando que eu fosse gostar:
– O ingresso de Yui Harisawa, a guitarrista da banda , é um deles. Infelizmente, a sua personalidade afetada e sua pouca atenção á vida diária fazem com que ela não tenha muito interesse pelos clubes. Ao ser pressionada por sua amiga a se juntar à um deles para ter algo ao qual se dedicar ela se lembra de ter se inscrito no clube de música popular mesmo não sabendo do que se trata.
Existem outras cenas que se utilizam de muitos lugares comuns do gênero. Muitas vezes à exaustão:
– Por exemplo, há uma outra cena, muito típica de shoujos, que é uma reunião de garotas para um lanche em volta de uma mesa de chá. Tsugumi está servindo o lanche para elas em louça fina e a toalha que cobre a mesa é brance. Yui supõe que ela seja muito rica porque todas as peças com as quais elas estão se servindo são de altíssima qualidade.
Só eu sinto exagero ao ler isso? Ou será que todas as garotas no japão tomariam realmente chá em um clube de música oferecido por uma garota rica e meiga que está disposta a oferecer uma louça cara e rara para um clube ao qual ela acabou de juntar? Fã-service gratuito identificado. Ainda mais porque a situação apenas dá a informação que a garota é rica, mas ao longo do mangá vai sendo mostrado que Ritsu é rica sem abusar de uma cena tão cheia de clichês e exagerada. Certo, mangá é sobre hipérbole, mas pra mim isso desceu como uma pedra. Embora eu goste muito dessas cenas de chá por serem um elemento muito característico de shoujos. Mesas que são fartas e cheias de utensílios e comidas caras e diversas, mas não tem como negar: no caso foi exagero.
Porém, devo ressaltar que certas coisas foram muito agradáveis ao ler o mangá como, justamente, o fato de elas serem personagens típicas. Isso porque eu tenho percepção o bastante para entender que o mangá não é pretensioso e que isso dá um cero conforto para quem geralmente lê o esse tipo de mangá. Mesmo que eu ache que isso pudesse ter sido usado menos à exaustão. O traço não é todo rebuscado e cheio de efeitos de luz. É limpo e delicado, sem exageros.
Isso dá muitos pontos positivos ao mangá em minha opinião. Pode dar oportunidade para quem não está acostumado com o gênero a ingressar por meio de K-On na gigantesca biblioteca de shoujos sem se afastar por certas decisões dos desenhistas de representar certos personagens com um traço muito afeminado ou estilizado.
Porém, que fique claro que se você está procurando um material de qualidade e já tem certo costume com shoujos e quer algo que se foque no tema de banda e música eu não iria exitar em dizer que Nana é uma opção muito melhor em todos os termos. Incluindo um preço bem mais acessível e uma coleção quase completa. Basta apenas vontade de correr atrás dos volumes.
Há outro fator, também: K-on é mais voltado para a comédia que para o romance. Aliás, quase todo o enredo é sobre situações engraçadas ou inusitadas. O que pode dar coragem a certos marmanjos barbudos a lerem ele para dar um pouco de risada, mas ainda assim acho que seria mais fácil optar pelo típico mangá harém caso você seja do sexo masculino. De qualquer modo o mangá tem seus pontos positivos, inegavelmente.
Música “leve”?
Dentre tudo o que é apresentado na edição da NewPop algo me parecia especialmente deslocado, errado, logo na primeira página: o termo música “leve”. Por uma nota de ropadé se explica que se optou por essa tradução para o termo keion que nomeia o mangá que se chama: K-on.
Ninguém em sã consciência e sendo falante de língua portuguesa se refere ao Rock, ao Jazz, à Bossa Nova ou o Heavy Metal como música “leve”. O tom e a melodia são definidos pelo gênero. Rock pode pop ou hard. Porque raios eu utilizaria para me referir aos estilos musicais não clássicos como música leve?
O que não é clássico é popular ou pop e é assim que a tradução deveria ter optado por traduzir o termo keion.
Independente da conotação que a língua Japonesa dê deveria ter se colocado isso em nota como curiosidade e não como opção de tradução que soa estranha, sem nexo e que não faz sentido nenhum aos ouvidos e nem olhos de ninguém. A palavra leve nesse sentido não existe associada ao termo música é uma questão de significado simples e corrente, de comnhecimento comum. Ou será que o Iron Maiden ou o grupo “Sepultura” são músicas leves? A opção de tradução foi, no mínimo, infeliz.
Preço/material:
A editora NewPop é conhecida por edições caras e luxuosas em ause todas as suas publicações e, também, por optar sempre por títulos cults. Tivemos Dororo e Hetalia junto com Metropolis, por exemplo. As edições , em geral, contam com um miolo de alta qualidade, páginas coloridas e uma capa plastificada.
O mangá é mais fino que o típico tankobon, porém, tem maiores dimensões por página dando a impresão de um almanaque ao invés de um mangá. A capa é colorida e muito chamtiva, mas o preço cobra por todo esse tratamento à edição: salgados quinze reais. Para ser exato, R$ 14, 90.
Muito interessante esse manga K-ON pra quem curte. Como um manga destinado ao público feminino ele parece apresentar temas, situações, discussões, conflitos e referências de interesse do seu público leitor. Realmente me parece que alguns pontos poderiam ter sido melhor planejados (como as razões que levariam ao fechamento do clube de música), mas cabe incluir ake o seguinte questionamento: será realmente que a inclusão de mais detalhes ao enredo não tornaria a trama exaustiva demais? Faço esse questionamento por que esse manga me parece do tipo que cria situações cômicas para divertir os seus leitores. Tudo bem, certos detalhes extras poderiam ser incluídos, mas acho que também é importante considerar a paciência dos leitores. Esse não é um manga que busca se tornar um dos 10 maiores mangas ja produzidos ou que busca apresentar uma história tão complexa quanto berserk, mas sim é um que busca divertir o seu leitor e nem sempre mais informação é sinônimo de qualidade. Até por que, por exemplo, as razões que estão causando o fechamento do clube de música não são tão importantes assim, mas sim como ele será salvo e quais serão as confusões, nas quais, as personagens se envolverão pra realizar esse feito. Eu também teria um pouco mais de cuidado ao tecer considerações a respeito de temas de interesse de um publico leitor diferente (relacionamentos próprios de um ambiente escolar são de interesse pra muitas pessoas) e ao caracterizar fisicamente as personagens desse manga e de outros visando entender a relação de interesse existente entre personagem/leitor (exagero esquelético foi ótimo). Além disso, certas características que são classificadas como padrão podem realmente não ser de interesse para pessoas que possuem um vasto conhecimento de manga/anime, porém podem ser de agrado suficiente para outras. Esse fato me leva a considerar também que é preciso levar em consideração que a experiência de um não é de todos e, dessa forma, é importante não afugentar outras pessoas que possam vir a se interessar por certas produções que não são do interesse de pessoas mais experientes. Cada um tem o direito de apreciar o que quiser, independente do seu nível de exp. Talvez esses sejam pontos que demandem mais reflexões. Pontos positivos tambem foram apresentados com relação ao mangá e não seria justo não parabenizar o autor deste blog pela consideração dos mesmos, até por que nem tudo é crítica, não é mesmo? Achei o post muito bom e explicativo, cheio de considerações e de reflexões interessantes que poderiam gerar muitos debates super legais. Parabenizo o autor por tão incrível capacidade de análise. Só peço que ele tenha mais cuidado ao afirmar certas coisas no tecer de suas análises. Parabéns! Falou!
ENtão Roberto. Sobre o Shoujo de fato certos esteriótipos se repetem e a caracterização dem ulheres altas e magras para identificar um padrão de beleza veêm do desejo das Japonesas em serem mulheres altas e atléticas. Até porque, se você lembrar Japoneses (especialmente as mulheres) tem estaturas muito aquém do padrão ocidental e essa é uma forma de enxergar-se como uma mulher de fora ou pelo mais bonita. Muitos dos modelos de beleza para os Japoneses modernos veêm de fora. Isso não foi de graça, pelo menos.
A minha análise, como eu disse, foi a minha experiência, mas o que vale lembrar é que eu, como homem, acho Shoujos interessantes até certo ponto, mas certos lugares comuins são cansativos. Claro, existem generalizações à respeito. Eu estava lendo algo interessante sobre o mangá K-ON: o fato de ele ser feito em quadros sequenciais face a face, quase como um close, tem haver com quatro estágios da construção do humor como em uma tirinha. Sim, no japão elas são quatro fases (quadros) que apresentam uma situação, o desenvolvimento da piada, o clímax dela e o fechamento. Porém, cada página tem em seqüência (se vc analisar) oito quadros. Sendo todos continuos. O que o torna estranho porque seriam duas piadas por página. Isso pode causar uma certa estranheza aos ocidentais acostumados a tirinhas com começo meio e fim e que não sãoestruturados em capítulos e sim para uma apreensão rápida e fugaz.
Mas isso é um assunto pra outra hora.
Portanto parte da minha análise não foi de graça, colega. Existe esse conhecimento para ser analisado, porém, é bom lembrar que nem sempre ele é o que manda nas leituras, mas é bom saber desses detalhes. Se cada um constrói sua experiência de leitura minah análise foi mais uma delas. Eu apenas dei o ar de opinião. Se ela foi forte demais em certosp ontos, perdão, mas é meu tom. E muito obrigado por comentar!
Meninas magras e altas… Pelo menos não são peitudas! XD
Não li o mangá, mas vi o anime. Lá na frente mostra como era o keinboku no passado, e pq ele acabou. Não me lembro o motivo de ter sido retivado.
E sim, a Yui é uma tapada que vive as custas de sua irmã mais nova 😛
K-on é do tipo shoujo, aonde prega mais a comédia, mesmo com exagero. Não tem romance, por se tratar de uma escola feminina. As coisas ficam mais legais quando entra a 5ª integrante e as outras estão quase se formando, o medo do keinboku acabar de vez. Eu gostei, espero ter continuação.